Após cinco meses consecutivos de crescimento, o comércio varejista no Brasil registrou uma queda de 1% nas vendas em junho de 2024, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado negativo interrompe uma sequência de alta que vinha impulsionando o setor e acende um alerta sobre as dificuldades econômicas enfrentadas pelos consumidores, especialmente no segmento de hiper e supermercados.
De acordo com Exame, o recuo nas vendas foi puxado principalmente pelo desempenho negativo de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que registraram uma queda significativa em junho. Esse segmento, que tradicionalmente responde por uma parcela expressiva do volume de vendas no varejo, foi particularmente impactado pela desaceleração do consumo das famílias, reflexo da inflação persistente e do endividamento elevado.
O impacto negativo nesse setor é preocupante, pois supermercados e hipermercados são considerados indicadores relevantes do comportamento do consumo básico das famílias. A retração sugere que os consumidores estão reduzindo suas compras, especialmente de itens não essenciais, em resposta às pressões financeiras.
O Globo informa que diversos fatores contribuíram para a retração nas vendas de junho. Em primeiro lugar, a inflação acumulada nos últimos meses continua a afetar o poder de compra dos brasileiros, especialmente nos itens de alimentação e bebidas, que são altamente sensíveis a variações de preço. Embora a inflação tenha mostrado sinais de desaceleração, seus efeitos sobre os orçamentos familiares ainda são significativos.
Além disso, o elevado nível de endividamento das famílias brasileiras, combinado com altas taxas de juros, tem restringido a capacidade de consumo. Muitos consumidores estão priorizando o pagamento de dívidas em detrimento das compras, o que impacta diretamente o volume de vendas no varejo.
Também informa Veja que outro fator que influenciou negativamente o desempenho do comércio foi a base de comparação elevada. Nos meses anteriores, o setor havia registrado fortes resultados, impulsionados pela demanda reprimida e por promoções que estimularam o consumo. Essa base alta torna o recuo de junho mais acentuado, ainda que em termos absolutos o nível de vendas permaneça elevado em relação ao mesmo período do ano anterior.
A queda nas vendas não se limitou aos hiper e supermercados. Outros segmentos do varejo também sentiram o impacto da desaceleração econômica. O comércio de móveis e eletrodomésticos, por exemplo, registrou um recuo, influenciado pela cautela dos consumidores em relação a compras de maior valor e pela incerteza econômica.
Por outro lado, alguns segmentos conseguiram manter um desempenho positivo, como o comércio de vestuário e calçados, que continuou a apresentar crescimento, embora em ritmo mais moderado do que nos meses anteriores. Esse setor tem se beneficiado de promoções e da sazonalidade, com a troca de coleções de moda impulsionando as vendas.
A expectativa para os próximos meses é de cautela. Especialistas alertam que a recuperação do varejo pode ser gradual, dependendo de uma série de fatores econômicos e sociais. A redução da inflação e a melhoria das condições de crédito são vistas como essenciais para uma retomada mais consistente do consumo.
No entanto, o cenário econômico global também impõe desafios, com a desaceleração do crescimento econômico em grandes economias, como a China e os Estados Unidos, potencialmente afetando as exportações brasileiras e, por consequência, o emprego e a renda no país. Esses fatores externos, combinados com as questões internas, como a necessidade de ajuste fiscal e a manutenção da política monetária restritiva, devem continuar a influenciar o comportamento do consumidor brasileiro.
A queda de 1% nas vendas do comércio varejista em junho de 2024 marca uma pausa na recuperação observada nos meses anteriores e levanta preocupações sobre o futuro do setor. Com o impacto da inflação, o alto endividamento das famílias e a cautela do consumidor, o varejo enfrenta um cenário desafiador para o restante do ano. A resposta do setor dependerá não apenas da evolução dos indicadores macroeconômicos, mas também da capacidade das empresas de se adaptarem a esse novo ambiente, oferecendo alternativas que possam atrair os consumidores e estimular as vendas em um contexto de incerteza.